António Mário da Silva Cunha – Músico, professor, comendador e diretor – Entrevista para a JEM – 09/2004
António Mário da Silva Cunha
Músico, professor, comendador e diretor
Antonio Mário Cunha, ou simplesmente Professor Mário, como é conhecido, é o nosso primeiro entrevistado, no JEM. Proprietário do Conservatório Souza Lima e da Faculdade Internacional Souza Lima & Berklee, ele nos conta um pouco da sua trajetória profissional e dá dicas para quem quer fazer sucesso, nessa área.
JEM: Só para lembrar, você está sempre conosco nos trabalhos editorias que temos desenvolvido e, pela sua notoriedade na área musical, foi a pessoa escolhida para iniciar esse projeto.
AM: Estou muito feliz por participar do seu projeto e agradeço pela preferência. Sinto-me honrado com o convite, já que sempre procuro fazer algo pioneiro.
JEM: Gostaria que você fizesse um resumo da sua vida musical: como começou, primeiro instrumento, como foi?
AM:Eu era nadador federado, vivi as minhas Olimpíadas, no Brasil, e senti o gosta da vitória por várias vezes. Meus pais, Mario e Maria Fernanda Cunha, acharam que eu deveria aprender música e me colocaram nas aulas. Eu tinha uns quinze anos e comecei a aprender vários instrumentos. … O primeiro, Acordeon, era o instrumento que minha mãe gostava; depois passei para o violão, piano e órgão eletrônico. Enfim, acabei ficando dentro da escola:fiz coral, todas as matérias necessárias e me formei no Conservatório e Faculdade Marcelo Tupinambá de São Paulo, em bacharelado de Piano, Órgão Eletrônico e licenciatura, em Educação Artística.
Servi o Exército, no CPOR, e tornei-me oficial, na patente de Tenente. Era o Maestro da Turma e, nessa época, acabei não tendo muito tempo para fazer música . Ainda assim, continuei a Faculdade e, em seguida, surgiu uma oportunidade de fazer um trabalho como solista, ao piano e órgão eletrônico, realizando concertos e gravando o primeiro disco. Tive sempre certa facilidade para ganhar Concursos; lembro-me que tinha 5 anos de piano e já tocava “Cravo Bem Temperado”, de Bach. Enfim, participei de diversos inclusive da Yamaha e sempre fui muito feliz com a minha atuação e premiações.
Certa vez, tentei gravar um disco como pianista- solo, mas justamente na mesma época o produtor Marcos Pereira, que faria o trabalho, infelizmente, veio a falecer. Isso me levou a um certo desânimo. Logo após, fui ajudar minha então professora, Anita Salles, grande organista, que tinha alguns problemas com sua loja, na Alameda Lorena, e foi ali que eu comecei o Conservatório Musical Souza Lima, em 1981. Por três anos, tive mais 2 unidades, na mesma rua; em seguida, fiquei 2 anos, na Av. 9 de julho e, no 5 º aniversário da escola, adquiri o imóvel do atual endereço, via financiamento da CEF.
Quem detinha o nome era o Conservatório Marcelo Tupinambá, embora tenha sido criado pela professora Maria Celeste Bonfim Correa, em 1968, em homenagem ao seu professor, o então pianista, revisor e maestro Souza Lima. Comprei o nome “Conservatório Souza Lima“ e comecei meu trabalho, lecionando piano, órgão, violão, teoria e coral. Fui o único professor, durante seis meses, em 1982, tendo, em média, alunos. De lá pra cá, continuei lecionando, administrando e a escola foi crescendo. Fui convidado a receber inúmeras Comendas e até a medalha de Ouro do Governo do Estado de São Paulo, devido ao meu trabalho, de instrumentista e diretor da escola que mais evoluiu, durante esse período.
Desde o inicio, sempre acumulei as funções de administrador, coordenador, diretor e professor. Com o tempo, passei a fazer só à administração e direção. A veia administrativa, de marketing e de produtor, veio por conta da experiência, mas minha intenção sempre foi criar uma escola onde houvesse preocupação com a educação musical e é isso que faço hoje: educar musicalmente os nossos alunos. Hoje tenho o assistente de direção, o Prof. Lupa Santiago e outros nomes, que me ajudam na coordenação, além de professores conceituados e famosos, no cenário musical, que muito contribuem para o desenvolvimento do nosso trabalho.
JEM: E hoje sobra tempo pra você tocar?
AM: Eu brinco em casa. Tenho um piano e minha filha, de cinco anos, está aprendendo a tocar… Então, tocamos a quatro mãos. Há também o violão e ainda vão me ver na Bateria, aguardem…
JEM: Você continua mantendo um repertório?
AM: Fiz alguns Concertos, em homenagem a Benedetto Marcelo, compositor brasileiro, da década de 50, cujo pseudônimo é Marcelo Tupinambá. Ele compôs muitos chorinhos e comecei a estudar um repertório com a obra, fazendo várias apresentações – Teatro Municipal de Cubatão, Teatro de São Caetano, Teatro Municipal de São Bernardo do Campo, na cidade de Tietê (sua cidade natal) e em alguns clubes (no Clube Atlético Paulistano e outros). Cheguei a ser concertista e hoje tenho esse repertório decorado e pronto. Qualquer dia, ainda vou gravá-lo…
JEM: Você mantém cursos, em seu conservatório, que enfocam várias matérias. Isso dá possibilidade, ao aluno, de ter uma visão geral do ensino de música e não só do instrumento…
AM: Desde o início, sempre tivemos o Coral e isso é um diferencial. Recentemente, tivemos a presença da Ana Maria Kieffer, que ficou fantasticamente satisfeita, ao ver nosso coral, com quase 60 vozes. Também sempre oferecemos matérias complementares, que julgo importantes – teoria, percepção, história da música, coral, harmonia, entre outras. Quando a Berklee veio visitar a escola, em 98, ficou estabelecido que seríamos sua representante oficial, no Brasil. Já havia um trabalho realizado, concreto e abrangente, que, de certa forma, facilitou essa tarefa e, com cinco anos de convênio, conquistei a autorização para ser Faculdade Internacional de musica, a primeira, única e exclusiva, no Brasil..
JEM: Ainda sobre parcerias, o que você conseguiu fazer?
AM: Sempre procurei parceiros, mas o circuito – lojas, fábricas – era muito fechado. Hoje existe uma certa abertura, por questões óbvias, mas há 15, 20 anos atrás, não existia a mínima possibilidade de se conseguir até mesmo material gráfico, para divulgação, ou ser patrocinado por um revendedor ou fabricante. Na verdade, o que aconteceu e abriu a mente dos empresários, lojistas e fabricantes foi a tomada de consciência, de que o público-alvo está nas escolas (um cliente em potencial) e hoje começa a haver uma simpatia por esse sistema, de parceria de investimentos para com as escolas maiores Penso, inclusive, que esse procedimento deveria ser aplicado também para as escolas pequenas, pois se você unir 30 escolas menores, vai ter um empreendimento bem maior do que 2 ou 3 escolas grandes.. Mas para isso precisa ter investimento de todas as partes, investimento contínuo – em pessoal, qualidade, benefícios ao aluno e, principalmente, é preciso ter transparência no trabalho que você faz.
JEM: Sua escola hoje é considerada uma das melhores do Brasil, na área musical: a que você atribui o fato?
AM: Eu diria que para se fazer uma boa escola precisamos de um aluno que queira cursá-la. Temos que dar todos os recursos para que ele alcance seu objetivo e ele será a propaganda viva do nosso empreendimento. No início, quando tentei implantar alguns métodos da Berklee, alguns professores acharam que o programa de ensino era muito forte para ser aplicado aqui, no Brasil. Mas é preciso ousar… Acredito que o aluno tratado com consciência profissional e qualidade é um grande retorno comercial. Podemos até dizer que temos alunos, hoje, bem mais preparados do que muitos professores, que se dizem professores, mas que não se reciclam, enquanto o aluno, está aprendendo continuamente…As escolas precisam se preocupar com seus professores, com seu conteúdo programático, seus instrumentos, suas estruturas físicas e com a mentalidade – não investir e só querer apurar lucros não traz retorno real e nem profissional. É preciso equilibrar os dois lados, diluir os investimentos e planejar as áreas de atuação. Essas são as dicas que eu tenho dado. Para você ter uma idéia, tenho uma lista de 20 escolas que querem filiar-se ao Souza Lima e temos tido inúmeras visitas de diretores de escolas, telefonemas, e-mails. No entanto, percebo, que existem pessoas que não têm fôlego necessário, ou ainda, o estímulo para implantar uma série de novidades e desafios, que é uma característica dos nossos empreendimentos.
JEL: Como funciona a parceria com a Berklee?
AM: Nos dois primeiros anos, o aluno tem as mesmas matérias da Berklee. Estando aqui ou lá, terá a mesma grade curricular, o chamado ciclo básico.
JEL: E o aluno precisa prestar o vestibular?
AM: Sim, ele precisa ter o ensino médio completo, prestar o nosso vestibular, passar nas provas de teoria, harmonia, percepção e na prova prática, em média, com 20 a 30 minutos de duração. Sendo aprovado, ele terá aulas diárias, de segunda à sexta O curso inclui aulas de instrumento, harmonia, história da música, improvisação e outras. Ao final de 2 anos, sendo aprovado nas matérias, ele vai ser automaticamente transferido para a Beklee americana, onde cursará o terceiro e quarto anos, recebendo o master degree. Nossa outra opção, no Brasil, é a equivalência ao segundo grau, um diploma de técnico em música, reconhecido pela Secretaria da Educação de SP.
Hoje muita gente procura o Souza Lima pelo diploma, mas também e principalmente, pela carga de estudos que ele oferece. Infelizmente um diploma de músico, no Brasil, não quer dizer muita coisa, mas espero que, com o tempo, haja mais respeito para com as escolas e que seja reconhecido o valor do músico acadêmico e dos professores que estudam realmente. Músicos dão aula em cada esquina e não há controle sobre isso. De uma maneira ou de outra, eles ‘atravessam’ o sistema da Entidade de Ensino, que paga impostos e dos professores. que se formaram e investiram na carreira… Melhor seria se as escolas pudessem absorver todo esse contingente e se houvesse uma disciplina quanto à carreira do músico brasileiro… Porém, no Brasil, tudo é relevado, em função da sobrevivência…
JEL: Falando aos donos das escolas, qual o recado: cuidado com quem está contratando?
AM: Estar atento, principalmente, para o que o professor fala e faz. Acho que nosso maior cuidado, hoje, é observar a maneira que o professor atua, pois existe o músico e o professor: há profissionais que desempenham melhor em uma ou outra área e outros, em ambas. Nesse sentido, convém aproveitar o potencial de cada um, procurando o ambiente favorável onde ele possa ter o maior rendimento possível. O professor tem que vestir a camisa da escola, mas às vezes, pela questão da sobrevivência, as pessoas se atropelam quanto à questão ética. Acho que temos que conquistar nosso espaço e acreditamos que o Souza Lima já é uma das escolas, no Brasil, que conseguiu isso, pois se diz “eu tenho aula no Souza Lima” e tenho aula no “X ou Y”. Isso e bom e serve para valorizar as nossas Instituições.
JEL: Eu diria que o brasileiro é uma pessoa musicalmente rica, que tem, intrinsecamente, muita musicalidade.
AM: Você sabe que os comerciais de tv brasileiros são os melhores? O brasileiro é o povo mais criativo e mais talentoso do mundo nossos músicos são internacionalmente reconhecidos – Tom Jobim, Elis Regina, Hermeto Paschoal, Guinga, e outros. Acho, porém, que eles não são valorizados como deveriam, dentro do Brasil. É a velha história, que se aplica também para o esporte e esperamos que isso mude, o mais rápido possível. Da nossa parte, estamos fazendo o máximo para mudar isso, a exemplo da Galeria Souza Lima, criada com o intuito de homenagear e eternizar nossos músicos. Talentosos músicos brasileiros, que acabam fazendo sucesso com seus trabalhos, lá fora, foram minha inspiração para buscar o apoio da Berklee, pois estou indo onde minha sensibilidade aponta, à busca de qualidade. Se a experiência deles fez com que tivessem a melhor Faculdade do Mundo, porque eu não me aliaria? Na sua sede, eles têm 5 mil alunos. Em torno de 2.5 mil alunos vindos de diversos países se hospedam em suas repúblicas ou utilizam suas indicações para moradia. Esse contingente ganha o mercado de trabalho, em todo o mundo, e com distinção. No Brasil, também recebemos alunos de outras localidades e procuramos oferecer um certo respaldo, até que eles possam fazer escolhas de moradia e trabalho.
Além disso, esse convênio propõe um trabalho de 2 vias, pois através do BIN ( Berklee International Network, em 14 países), levamos e difundimos para eles e com eles, para o resto do mundo, a música brasileira. Difundir nossa música, através desse intercâmbio tem sido muito gratificante.
JEL: Quais são os planos futuros para o Souza Lima?
AM: Nossa proposta é estarmos sempre atualizados, atentos para a mudança dos tempos e mantendo nosso trabalho – formar músicos -, tarefa difícil, nos dias de hoje… Também, continuar o intercâmbio nacional e internacional, divulgando a Música brasileira e os Músicos brasileiros, através de diversos projetos, parcerias e ações culturais.
JEM: Quais são as opções que o Souza oferece, além dos cursos tradicionais?
AM: O Souza Lima, hoje, tem diversos trabalhos didáticos, cursos livres, cursos técnicos, curso preparatório para o vestibular e Faculdade Souza & Berklee. Essa diversidade nos permite atender melhor o mercado. Existe o SL Kids, um trabalho direcionado para crianças a partir de 4 a 10 anos; o SL Teen é outro trabalho, voltado para entidades e escolas conveniadas – Banespa, Grupo Santander, Faculdades, Colégios, etc. Temos um departamento muito forte, dos Cursos de Áudio, com 5 níveis e sob a direção do Manny Monteiro.
Temos também a linha de produção, onde realizamos algo em torno de 2.800 eventos, entre workshops, concursos, shows, seminários, séries especiais e outros. A escola recebe convites de empresas e, com isso, estamos fazendo nossos alunos tocarem ao vivo.
Recentemente, fizemos shows na loja Made in Brazil, CityBank, Clube Pinheiros, Escola Domus, COC, Escola Morumbi, Faculdade e Colégio Rio Branco, Faculdade e Colégio Eniac/Guarulhos, entre outros. . Participamos da Expo Music 2004 – Feira da Música, no estande da ADAH, com mais de 90 alunos, em shows, no Sl Music Hall. Também estivemos participando e apoiando o Cascavel Jazz Festival. É todo um misto de atividades, possibilidades e parcerias.
Estamos participando de vários eventos da Prefeitura de São Paulo e do Governo do Estado. Fomos convidados a fazer parcerias, na campanha do agasalho e em outras festas públicas. Isso mostra que a escola está representando e mobilizando músicos e boa música, nessas áreas. Em novembro, na área da música erudita, tivemos a visita de um importante pianista americano, da universidade de Montclair/Usa; conseguimos prêmios fantásticos para os Concursos de Piano e Violão já na 15 ª edição) , entre os quais podemos destacar o Tour cultural pelo Eua, oferecido pelo Consulado Geral americano – 10 dias, com tudo pago, ao grande vencedor de cada concurso. Enfim, estamos investindo em eventos eruditos, além de desfrutarmos de um alto conceito nos eventos e cursos populares, com os nossos professores, mestres e convidados.
JEM: Você acha que está havendo uma procura maior pela música erudita?
AM: A escola já chegou a ser ‘meio a meio’, mas hoje, há mais procura para o popular. Mas continuamos investindo também no curso erudito, até mesmo pela questão musical e cultural. Mais orquestras estão sendo criadas e isso traz visibilidade e procura. As pessoas estão mais esclarecidas a respeito dessa música e procuramos ser uma opção séria de ensino erudito, no mercado.
JEM: Com uma escola que tem, em média, 2.000 alunos por ano, o que você falaria para pessoas que estão começando ou que possuem um número limitado de alunos?
AM: Eu diria que essas pessoas precisam fazer uma escola dinâmica, ética, com muita seriedade e trabalho.
JEL: Você gostaria de fazer algum comentário, as palavras finais?
AM: Eu gostaria de agradecer, mais uma vez, a oportunidade dessa entrevista. Fico feliz em poder transmitir minhas experiências para todas as pessoas do ramo musical e, principalmente, em dizer aos diretores de Escolas, que se empenhem, pois o empenho é tudo, em qualquer trabalho. Convido-as, também, a visitar nosso site, www.souzalima.com.br e ,se quiserem, mandar e-mails, os quais responderei com o maior prazer: diretor@souzalima.com.br
Podem nos visitar, durante o período da feira da música, que estarei à disposição dos que quiserem ou se interessarem em nos representar ou fazer alguns trabalhos coligados ao Souza Lima, pois, de acordo com uma prévia seleção, estaremos realizando sempre novas parceiras.
Desde a sua fundação, o Souza Lima mantém um trabalho social, por uma questão particular minha, pois devo a Deus todo o sucesso e tudo o que consegui. Por isso, sempre fiz questão manter um trabalho social, através de Bolsas de estudo e outras ações dentro Sl Ação Social.
Durante o último ano, a Berklee ofereceu um milhão de dólares, em bolsas de estudo parciais, em todo o mundo. Para alunos brasileiros, foram, em média, 150 a 200 mil dólares/ano. O Souza Lima oferece em torno de 20 a 30 bolsas parciais, por semestre, viabilizando o estudo para talentos que não possuem condições financeiras. Acredito que seria interessante se outras escolas também fizessem esse trabalho – bolsas para alunos carentes -, pois é muito gratificante.
No mais, agradeço a minha família, à equipe de trabalho -administração, coordenação e professores – do Souza Lima Jardins, à diretora do Souza Lima Alphaville – Angela Sandoval – e professores, a todos do ramo musical que colaboram com o Souza Lima – nossos parceiros, aos nossos alunos – muitíssimo importantes – e aos interessados em aprender e crescer dentro da arte mais universal e mais completa do mundo: A MÚSICA.
Prof. Antonio Mario Cunha
Diretor do Souza Lima Ensino de Musica
Conservatório e Faculdade Internacional